...espasmos de lucidez podem gerar avalanches de idéias, ou não.

domingo, março 13, 2011

Só queria escrever...

Não aprendi uma lição grandiosa ou vivi uma experiência incrível, não tenho uma crítica visceral ou um apontamento solterte. Só queria escrever; nada mais...
E escrevendo encontro as coisas fáceis de serem esquecidas, vejo incoerências e, acima de tudo, convenço a mim mesmo do que estou fazendo.
Falo em ojeriza ao comodismo, mas (ainda) não vendi tudo que podia para viver intensamente na Indonésia surfando e conhecendo horizontes. Falo em 'work-hard', mas não fiquei trabalhando insanamente com unhas e dentes em uma idéia que julgasse boa (embora até tenha tido uma ou outra). Mas também, não sei se isso me completaria. Pelo caminho do meio, o que quer que isso signifique, parece uma boa alternativa.
Mas talvez eu não quisesse ter alternativas (por mais imbecil e imaturo que essa frase soe - e também não vou explicá-la como ela está aqui na 'caxola').
Além de tudo isso, ainda chove...

terça-feira, março 08, 2011

Não consigo ver a maldade.

Coloco a água para ferver e observo a chuva cair. O cheiro de grama molhada penetra as narinas e aflora a sensação de vazio. Quando chove, tudo parece mais solitário.
Vejo o que há em volta, embora turvo; as peças que compõe tudo, ora conectas ora distintas - mas sempre é o mesmo jogo.
Para cada personagem passageiro, para cada história que chega... Porque as vezes faço parte de tudo isso, e outras observo tão distante.
Pega teu café e sente o líquido quente garganta abaixo, você não está sozinho nisso. Mas o que é companhia, afinal?
Parece haver um vazio 'lá' que aflige. Um dia o dinheiro não basta, o amor é pouco, a embriagez fraca e o vazio onipresente; mais um café e olhada para a chuva.
Embora sinta tudo isso e tenha - a ilusão de - consciência, não consigo ver a maldade; só vejo vazios...
Aqui mesmo, tudo que escrevo é tão melancólico e triste; embora só estivesse tomando um café!

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Heartbreaker.

A música era alta, a cerveja gelada, a comida fresca e a companhia inigualável. Certa vez ouvi algo sobre você reconhecer os verdadeiros amigos após um intervalo de convivência reparando que a relação é praticamente a mesma; nunca tive uma oportunidade tão boa para comprová-la até então.
Pode ser um típico instinto egoísta de uma existência ciente de sua finitude; mas vejo que ter amigos é, antes de tudo, ter testemunhas de sua existência. E acho isso bonito, está relacionado com o cerne do ser, com a parte que realmente importa das coisas.
Ando crescendo muito, gosto da sensação de sentir o mundo a meu redor um pouco menos turvo e compreensível. Acredito que é preciso muita sabedoria para reconhecer, e relembrar, a beleza da simplicidade; e, aos poucos, vou tentanto encontrá-la.
'..I don't care what the people say, I know where their jive is at. One thing I do have on my mind, if you can clarify please do...'

domingo, janeiro 09, 2011

Onde e quando gostaria de estar.

O relógio já marcava seis horas da tarde quando comecei a me mobilizar para sair... Pedalei sem pressa até a praia com a tradicional, e começando a ficar velha, prancha verde-azul debaixo do braço no contrafluxo dos turistas com suas cadeiras, boias e bronzeados vermelhos. A session de manhã tinha sido demais, só sendo interrompida quando o sol e a concentração de gente se tornaram irritantes; assim deixando aquele gostinho de quero mais para o entardecer.
A correnteza não era forte, mas era constante. Depois de umas ondas (maravilhosamente fluídas e ocas, aliás), deixei a aquela ir levando pelo contorno da praia; afinal em toda a costa estavam quebrando aquelas ondas cinematográficas, não havia necessidade de ficar no mesmo lugar. Estava totalmente alheio aos pensamentos inúteis de planejamento e anseio tradicionais de início de ano; independente das vaidades quotidianas, era aquilo ali que realmente sempre importou: ser.
Nem melhorar de ganhos, de prestígio ou status; mas melhorar o que sou. Esse pensamento ocorreu me segundos antes de descer uma direita simplesmente incrível; como sou goofy footer (pé esquerdo atrás), segui de costas para a onda quase completamente engolido naquele gracioso tubo azul-esverdeado... Quando dei por mim, tive consciência da grandiosidade daquele momento e, de leve, estendi a mão direita acariciando a parede da onda olhando fixamente para aquela linha que parecia infinita e parelela à praia. Percebi que logo ela fecharia, assim coloquei o pé mais a frente para uma leve acelerada, fiquei totalmente de pé e conduzi para sair; e quando o fiz, levei as mãos ao rosto e fechei os olhos abrindo um sincero sorriso totalmente maravilhado com o que tinha acabado de acontecer. Em que estaria pensando antes daquela onda nem lembrava mais, acho que se quer existia algo antes daquela onda...
(..)
Quase totalmente escuro; olhava para o fundo e mal distinguia quando vinha uma onda (tanto que duas quase quebraram em cima de mim). Em contrapartida, olhando em direção à praia, uma pontinha de sol atrás dos morros tornava a água até a areia um caminho com milhões de fagulhas cor de fogo... Tinha de pegar mais uma ondinha que seja para tornar perfeito aquela paisagem, aquele momento, aquela coisa. Coloquei toda minha atenção na escuridão à frente, e aguardei. Até que percebi uma crista e remei com vontade em direção à escuridão me posicionando de acordo com aquela vaga (que escondia uma onda razoavelmente maior que a média do dia)... Apoteose. A única palavra, embora rebuscada, que consigo colocar. Que esquerda memorável...
Voltei caminhando em meio à escuridão rindo e cantando sozinho... Percebi que a correnteza tinha me arrastado alguns kilômetros (que percorri no que me pareceu cinco minutos) e que se quer conhecia aquele lado da praia. Olhei para o céu e, alegre, lembrei de algo que escrevi já a um bom tempo: "..eu que andava tão distraído; interpretei a lua crescente como um caloroso sorriso dos céus.."
Eu que sempre me reconheci pela vontade de ir embora e pela nostalgia, aproveitei tranquilo a caminhada reconhecendo que estava exatamente onde e quando gostaria de estar.

sábado, novembro 20, 2010

Quotidiano com 'qu'.

O fato é que não existe uma 'ordem natural das coisas' e, por conseguinte, as injustisças decorrentes de 'pular etapas'. Não é porque outrem conseguiu mais facilmente que merece menos crédito ou será 'menos recompensado' depois. Não existe o depois e um ajuste de contas que iguala a suposta balança da vida; apenas é mais simples de aceitar as coisas dessa forma.
O egoísmo e as demais mazelas quotidianas se tornam cada vez mais evidentes e questionáveis para mim. E, por mais antagônico que pareça, conviver com elas é mais simples dessa forma; sinto que valorizo melhor as coisas que merecem e vivo mais desapegado às mentiras intrínsecas aos costumes da sociedade.
É simples falar sobre, e difícil mudar velhos hábitos... O melhor, por enquanto, é rir do circo imbecil que armamos e servimos de elenco todos os dias; afinal, ridendo castigat mores.

terça-feira, novembro 16, 2010

Fobia.

Gerada nos confins macabros de uma mente trovoada, a centelha maligna do temor floresce e gera frutos propagando sua imunda raça. Eis o equivalente conteporâneo do Leviatã ou Hades a atemorizar um alguém; embora nem tão jovem, posto que já desgostava trovadores, romancistas, impressionistas, parnasos nem tanto... Dos bramidos inertes e alvos pedaços virgens cedentos por rabiscos pairam os temores inerentes ao ato de traduzir em palavras os códigos da mente.
Indubitavelmente, meu temor é: não conseguir ser objetivo.

domingo, outubro 03, 2010

Chocolates, rosas e vinho tinto.

O dia amanheceu cinza, o ônibus cheio e a mente flutuante. Mirando o horizonte, via o desenrolar de um filme mental incrível, repleto de particularidades que poderiam, ainda, torna-se lembranças. As avenidas pulsavam com a pressa dos veículos, a poluição visual cuspia proganda política aos olhos, transeuntes conversavam, crianças uniformizadas andavam. E eu, não...

Ia, sem pressa; Via, em nada associava; Dialogava, no mais completo silêncio; Diferente, no mesmo padrão... Permaneci nesta inércia aparente, embora sentisse algo diferente. Talvez apenas o tradicional anseio que precede algo diferente/trabalhoso (tipo algebra), mas acredito que não. Quando tendo a preocupar/importar-me com algo, ponho 'tudo' em outro contexto que seja superior (o que não é um desafio) e confiro o quão triviais são estes obstáculos diários e o quão fúteis são a maioria das pessoas (obviamente, não me excluindo). Vendo assim, todo o cotidiano torna-se uma enfadona jornada; nem tanto, o aproveitar da viagem (invés ao da chegada) caracteriza os satisfeitos com a existência (os ditos felizes); mas... Algo é preciso.

algo que chama a atenção na riqueza adquirida e algo que seduz na pobreza voluntária; algo mágico no mar e no ar, no deslizar, no fluir, no meditar, no esclarecer e, especialmente, há algo especial lá, onde quer que seja. É claro! A mesma conclusão por outro caminho. Começo a entrar na marcha homogênea e, abruptamente, venho ao mesmo ponto (aparente); 'embora sinta algo diferente'...

E o título..?! Ah, isso é outra história...

yaz